Nos porões da minha alma, abstraio-me em riscos num chão de areia, e olho para a rachadura no teto úmido, que corta a parede de carne vermelha, feito navalha afiada. Uma cela, um sentimento, e alguns suspiros.
O riso tornou-se obsoleto, e as carícias que outrora pairavam nos jardins do meu coração, hoje se afugentam por detrás das velharias empoeiradas, como quem se esconde dos ladrões da noite. Ladrões de sentimentos, ladrões de paz, ladrões de gestos tímidos cheios de delicadeza.
A dor apodera-se do cômodo, expelindo para fora toda a razão contida. Estarei eu, sofrendo das conseqüências do amor?
O amor não trás conseqüências, somos nós mesmos, e como seres insignificantes demais para carregar o brioso sentimento, discutimos a ausência de fatos e damos por decreto, a resposta para todas as dores: amor. Sofremos com o término de uma ilusão, com a decepção, apenas. Mas nunca por amor. Boicotamos o mais lindo sentimento e queremos impunidade.
É quando olho novamente para o teto e revejo a rachadura, sei que por algum motivo encontra-se ali. Tipifico nela, minha solidão, que sozinha não chega.
Escrevo versos desconexos na areia, digo frases de efeito que se perde no vão dos móveis velhos, desgastados.
Amar não é sofrer, não é machucar-se, não é morrer.
....Algum dia hei de te reformar,
Coração.
Dona Tempestade.

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